terça-feira, 17 de junho de 2014

Mulher Perdida

Ela nem sabia mais o que estava fazendo. Os óculos não lhe serviam direito, escorregavam enquanto tentava se concentrar e tinha que recoloca-los no lugar. A dor de cabeça que vinha das leituras com o óculos saindo do foco era um presságio da noite. Seria bom se concentrar em outra coisa, falar de outra maneira, pensar sobre si de uma forma não alienante do seu corpo. Cansava do peso da armação, cujo percurso não mais se previa, e os próprios olhos já haviam andado demais, ela ofegava. Ou talvez o fizesse, não saberia dizer, saberia apenas o que sente. Ou o que vê, e as imagens são desonestas. Por trás das palavras que tentava focar havia um homem, um homem inteiro, um homem completo inteiro, erguido, ou assim ela via. Tudo o que ela sentia era fuga, o que tentasse enxergar corria demais. Agarrou o lápis mas só o percebeu porque viu.
Não adianta se coçar, porque a coceira já estava além dela, sentia a coceira de outra pessoa.
Também já não sabia mais pensar. Sua imaginação batia por hábito e era igualmente intangível. Ela podia ver o vento, ver o silencio, enxergar os vidros limpos – até o besouro. Aí, seus olhos esbarram e o olhar se recolhe. Nada mais do que ela pensa faz sentido. Não havia nenhuma cor, nem preto ou branco, havia restos e coisas sem sentido. Já não pensa mais com palavras e por isso alguém escreve esse texto por ela, com uma compreensão escurraçada.
Longos períodos de inexistência
Longos períodos de comunhão com o vazio
Comunicação com os vidros limpos da casa.
A insinceridade das palavras, do texto limpo e hermético, pra que ela mesma não possa encontrar o que essas teias estão prendendo, do que se alimentam. Estética, recorremos à estética. Se, afinal, não podemos incorrer a nós mesmas, nos encontramos na forma. Estática.
No meio dos emaranhados, um besouro frígido, ou congelado,



talvez tenhamos errado a palavra.